Pilotos de Cristo

29/05/2011 15:17

 

Resgatar gente das trevas também exige perícia, destemor e determinação

As enchentes que inundaram boa parte de São Paulo e do Brasil, nas chuvas de fevereiro, apresentaram um momento em que a miséria humana, com lama por todos os lados, teve o pânico misturado com a emoção da solidariedade no resgate. Pilotos de helicópteros, ágeis, destemidos e exibindo grande perícia, proporcionaram o resgate de muitas vítimas. Na parede dos quartéis de bombeiros de São Paulo, há uma frase que diz assim: “A sua confiança em nós; a nossa, em Deus”.
Conheço esses pilotos e o trabalho deles no cotidiano da cidade. Aquele cesto que você viu na televisão, pendurado nos helicópteros e pousando para recolher pessoas e levá-las a um lugar seguro, tem dois metros de altura. Possui capacidade para resgatar três pessoas de cada vez. O tripulante, dentro do cesto, precisa escolher a prioridade – geralmente, crianças e mulheres, ou quem estiver com mais perspectivas de risco.
Podemos fazer uma analogia disso com a nossa militância de fé. Pessoas em toda parte precisam ser salvas, como dizemos em nossa linguagem. Os pilotos chamam a isso de salvamento; nós, de salvação. Para ser salvo, numa emergência, é preciso colaborar, seguir as instruções e confiar plenamente nos socorristas que surgem do alto. Para ser salvo, numa dimensão religiosa, o ser humano precisa entender o plano de salvação e aceitar o Cristo de Deus: Jesus, a revelação do Pai, que é amor, conforme o evangelho de Lucas.
Lama, pântano e lodaçal são palavras que nos sugerem pecado, ações de desobediência mandamentos do Senhor. Nesse cenário tenebroso, característica de tantos e tantos lugares, precisamos, como parte da nossa missão e fé, proporcionar a oportunidade de salvação. Resgatar gente das trevas. Isso também exige perícia, ótima vontade, destemor e determinação. A transformação dos corações, pela bondade, é essencial. É a graça da redenção.
Como bons pilotos do Evangelho, temos que decolar. O semeador, ensina o evangelho de Mateus 13.3, sai a semear. Ele não fica parado. Os cristãos professam sua fé em todo e qualquer tempo. Portanto, não dá mais para ficarmos lamentando que “no nosso tempo” as coisas eram melhores.
Pertenço a uma geração que me transmitiu uma formação cristã convicta: a de que é preciso salvar almas. Tal conceito ficou diluído no tempo. Num ensaio recente, o escritor Mateus Soares de Azevedo assinalou que o ser humano chamado “moderno” não possui sensibilidade e intuição da dimensão sagrada das coisas. Podemos perceber isso facilmente.
Mas Azevedo também acrescenta, a nos incomodar: “A religião tem há muito se valido de formas superficiais e mesmo banais para apresentar seu legado”. Há muita gente esperando a boa nova. Tracemos planos eficientes. E façamos ótimos vôos, como eficazes e audazes pilotos de Cristo.

Percival de Souza
é escritor, jornalista e membro do Conselho Diretor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista